Assessores técnico-pedagógicos de Língua Portuguesa

"A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida." John_Dewey



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Diretoria de Ensino Fundamental

Este é um espaço especialmente destinado para os professores de Língua Portuguesa, da rede Municipal de São Vicente, para que possamos compartilhar conhecimentos e refletir sobre nossa prática docente.

29 de agosto de 2011

Gênero - Conversa


Divirta-se com este causo antes de resolver as questões
Caçador de paturis
Eram dois caipiras metidos a caçadores de paturis, aquele pássaro que lembra um patinho e que sempre anda em bando numa algazarra danada:
- Cumpadi, cumé que ocê costuma caçá paturi?
- Cumo quarqué pessoa. Caçando nos mato. Que pergunta mais estapafúrdia, cumpadi.
- Espera aí, cumpadi. Que é caçando, eu sei, mas quero sabê com o quê ocê custuma caçá.
- Com o que haverá de? Com a minha espingarda de cartucho, ué? Ocê sabe que a carga é grande. Intão na hora que eu puxo o gatío, eu chaqueio o braço pra móde espaiá a porta. Derrubo uns 10 paturi só com um tiro da bicharêda.
- Pois eu faço diferente. Caço de noite e sem espingarda nenhuma. A minha lanterna é daquelas que tem um facho grandão de luz que parece olofróte dos campo de aviação.
- Ara! Já to querendo sabê como é isso. Caçá de noite e só com a lanterna, pra mim é nova, cumpadi.
- Espia só. Os paturi chegam em bando e vão se aninhando naquela arve frondosa. Ficam ali apinhocado mais de 200. Tudo pronto pra drumi. Pois bem. Eu chego quietinho com a minha lanterna no escuro, aprumo pra riba, pra perto da arve e acendo o facho de luz, pro rumo do céu. Aí eu começo a rodopiá aquele facho de luz. De repente,os paturi percebe e entra naquele facho de luz que formou ansim quiném um anér. E entra mais outro, e mais outro. Eu continuo rodando aquele anér de luz... E quando a roda toda ta cheia de paturi... aí eu, num solavanco de surpresa, rodopio ao contrário. Os paturi trombam tudo uns nos ôtro e cai aquele despropósito no chão. Tudo tonto co as cabeçada que deram!
Adaptado de Contando Causos, de Rolando Boldrin (Nova Alexandria, 2001)
 Atividade criada por Francis Arthuso Paiva e modificada pela Equipe do Redigir (setembro, 2007).Faculdade de Letras da UFMG
Questões:
1.    Quem são as personagens desse texto?
Procure descrevê-las. Pense na idade delas, nas roupas que vestem, no lugar que moram, entre outros. Se quiser, faça um desenho delas.
2.    O que os caçadores estão caçando?
3.    Como esses caçadores caçam os paturis?
4.    Você acredita nesses caçadores? Por quê?
5.    Que linguagem é usada neste texto?
- Você fala como as personagens desse texto?
- Compare algumas falas delas com o jeito que você fala. Há diferença? Quais?
- O que você acha dessas diferenças?
6. O causo Caçador de paturis possui diálogos que são escritos em linguagem bastante coloquial, próximo do modo como seus personagens falam.
 - Retire do texto exemplos que comprovem essa afirmação.
7. Há palavras pronunciadas pelos personagens que são típicas da variedade “caipira” da língua. Porém, há outras que não são usadas apenas nessa variante da língua portuguesa e que se apresentam na forma dicionarizada. Escreva nas colunas abaixo, exemplos desses dois casos que você encontrou no texto.
Variedade Caipira
Variante padrão

cumpadi
Caçadores












8. Escolha 5 palavras do texto que estão registradas na variedade caipira e apresente a forma dicionarizada delas.
9. Agora faça o contrário, escolha 5 palavras ou expressões que você usa e mostre como elas seriam ditas na variedade caipira.
10. Você sabe contar causo? Pois descubra um bem divertido ou bem aterrorizante para contar para seus colegas. Lembre-se de escrever bem próximo do modo como você fala (ou da forma como falam as personagens) e depois conte para sua turma.Faculdade de Letras da UFMG
Questões:
1.    Quem são as personagens desse texto?
Procure descrevê-las. Pense na idade delas, nas roupas que vestem, no lugar que moram, entre outros. Se quiser, faça um desenho delas. São caipiras. Existe um estereótipo de caipiras, ou seja, são pessoa de roupas simples, camisa xadrez e chapéu de palha. Devem ser duas pessoas de meia idade porque já possuem experiência em caça. Os alunos devem ser estimulados a comparar suas descrições e os desenhos para ver o que eles  têm em comum. O professor deve discutir com os alunos a questão do estereótipo, que nem todas as pessoas que moram na zona rural são caipiras ou falam da mesma forma que as personagens do texto. Outras questões que devem ser discutidas são a variação lingüística e o preconceito lingüístico.
Para saber mais sobre preconceito lingüístico, sugerimos a leitura de
BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico – o que é, como se faz. São Paulo: Edições
Loyola, 1999.
2.    O que os caçadores estão caçando?
Paturi. É uma espécie de pato.
Essa é uma tarefa que exige a localização de informação, pois a resposta está apresentada explicitamente no texto.
3.    Como esses caçadores caçam os paturis?
Os alunos devem descrever como cada um dos caçadores caça os paturis. Eles devem discutir o significado de palavras como “gatío”, “chaqueio” e “bicharêda”, “olofróte”, “apinhocado”, “anér”. Seria bom que eles demonstrassem fisicamente como imaginam os gestos de cada caçador.
4.    Você acredita nesses caçadores? Por quê?
As histórias parecem muito inverossímeis e exageradas. Essas são características muito típicas de causos. Os alunos devem mostram quais são os elementos inverossímeis e quais são os exageros das histórias contadas pelos caçadores.
5.    Que linguagem é usada neste texto? Você fala como as personagens desse texto?
Compare algumas falas delas com o jeito que você fala. Há diferença? Quais? O que você acha dessas diferenças?
Os alunos devem encontrar semelhanças entre a fala deles e a fala dos personagens. Essas semelhanças são traços graduais da língua portuguesa brasileira, isto é, comum a todos os falantes e não apenas os de algumas regiões Há no texto muitos exemplos de traços graduais como infinitivo sem o r final – sabê – , alçamento de vogais – custuma – , monotongação – ôtro –, junção de clítico – quiném – entre outros.Faculdade de Letras da UFMG
Os alunos devem também perceber que alguns aspectos da variação são provocados pelas situações de interlocução. O registro (mais ou menos formal) é um exemplo de variação que acontece para que a linguagem fique mais adequada à situação. Outros aspectos, como o sotaque, não costumam variar mudar de acordo com a situação.
6.    Há palavras pronunciadas pelos personagens que são típicas da variedade “caipira” da língua. Porém, há outras que não são usadas apenas nessa variante da língua portuguesa e que se apresentam na forma dicionarizada. Escreva nas colunas abaixo, exemplos desses dois casos que você encontrou no texto.
O contraste é uma forma de ajudar os alunos a refletir sobre a língua. Os alunos devem usar a tabela para fazer uma análise contrastiva da variação oral e escrita formal das palavras retiradas do texto – essa atividade pode ser feita em grupo ou em dupla. É sempre importante o professor ajudar os alunos a perceberem a diferença sem, no entanto, rotular uma variante de melhor ou pior que as outras e sem desmerecer seus falantes. Juízos de valor preconceituosos por parte dos alunos, como por exemplo, considerar alguma fala errada e/ou inferior a outras, devem ser discutidos.
7. Escolha 5 palavras do texto que estão registradas na variedade caipira e apresente a forma dicionarizada delas.
8. Agora faça o contrário, escolha 5 palavras ou expressões que você usa e mostre como elas seriam ditas na variedade caipira.
As questões 7 e 8 ajudam o aluno a colocar em prática suas reflexões sobre a lógica das variantes. Cada variante tem seu sistema.
9. Você sabe contar causo? Pois descubra um bem divertido ou bem aterrorizante para contar para seus colegas. Lembre-se de escrever bem próximo do modo como você fala (ou da forma como falam as personagens) e depois conte para sua turma. O professor deve incentivar os alunos a contar causos. Como os causos são muito típicos da oralidade, essa atividade pode ser feita oralmente pelos alunos, que se quiserem podem fazer encenações.

Atividade retirada do site: http://www.letras.ufmg.br/redigir/paturis.pdf, acessado no dia 01/08/2010

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