PEDRO – O HOMEM DA FLOR
Se você se enquadra entre aqueles que
se dizem boêmios ou, pelo menos, entre aqueles que costumam ir, de vez em
quando, a um desses muitos barzinhos elegantes de Copacabana, é provável que já
tenha visto alguma vez Pedro – o homem da flor. Se, ao contrário, você é de
dormir cedo, então não. Então você nunca
viu Pedro – o homem da flor – porque jamais ele circulou de dia a não ser lá,
na sua favela do Esqueleto.
Quando anoitece, Pedro pega a sua
clássica cestinha, enche de flores, cujas hastes teve o cuidado de enrolar em
papel prateado, e sai do barraco rumo a Copacabana, onde fica até alta
madrugada, entrando nos bares – em todos os bares, porque Pedro conhece todos –
vendendo rosas. Quando a cesta fica vazia, Pedro conta a féria e vai comer
qualquer coisa no botequim mais próximo. Depois volta para casa como qualquer
funcionário público que tivesse cumprido zelosamente sua tarefa, na repartição
a que serve.
Conversei uma vez com Pedro – o homem da flor. Já o
vinha observando quando era o caso de estar num bar em que ele entrava. Via-o
chegar e dirigir-se às mesas em que havia um casal. Pedia licença e estendia a
cesta sobre a mesa. Psicologia aplicada, dirão vocês, pois qual o homem que se
nega a oferecer uma flor à moça que o acompanha, quando se lhe apresenta a
oportunidade? Sim, talvez Pedro seja um bom psicólogo, mas, mais do que isso, é
um romântico. Quando o homem mete a mão no bolso e pergunta quanto custa a
flor, depois de ofertá-la à companheira, Pedro responde com um sorriso:
— Dá o que o senhor quiser, moço. Flor
não tem preço.
Como eu ia dizendo, conversei uma vez
com Pedro e, desse dia em diante, temos conversado muitas vezes. Ele sabe de
coisas. Sabe, por exemplo, que a rosa branca encanta as mulheres morenas,
enquanto que as louras, invariavelmente, preferem rosas vermelhas. Fiel às suas
observações, é incapaz de oferecer rosas brancas às mulheres louras, ou
vice-versa. Se entra num bar e as flores de sua cesta são todas de uma só cor,
não coincidindo com o gosto comum às mulheres presentes, nem chega a oferecer
sua mercadoria. Vira as costas e sai em demanda de outro bar, onde estejam
mulheres louras, ou morenas, se for o caso.
O pequeno buquê de violetas – quando
as há – é carinhosamente arrumado pelas suas mãos grossas de operário, assim
como também as hastes prateadas das rosas. Saibam todos os que se fizeram
fregueses de Pedro – o homem da flor – que aquele papel prateado artisticamente
preso na haste das rosas e que tanto encanta as moças foi antes um prosaico
papel de maços de cigarros vazios, que o próprio Pedro recolheu por aí, nas
suas andanças pela madrugada.
Sei que Pedro ama a sua profissão,
tira dela o seu sustento, mas acima de tudo esforça-se por dignificá-la. Não vê
que seria um mero mercador de flores! Lembro-me da vez em que, entrando pelo
escuro do bar, trouxe nas mãos a última rosa branca para a moça morena que
bebia calada entre dois homens. Quando os três levantaram a cabeça ante a sua
presença, pudemos notar – eu, ele e as demais pessoas presentes – que a moça
era linda, de uma beleza comovente, suave, mas impressionante. Pedro
estendeu-lhe a rosa sem dizer uma palavra e, quando um dos rapazes quis
pagar-lhe, respondeu que absolutamente não era nada. Dava-se por muito feliz
por ter tido a oportunidade de oferecer aquela flor à moça que ali estava. E
sem ousar olhar novamente para ela, disse:
– Mais flores daria se mais flores eu
tivesse!
Assim é Pedro – o homem da flor.
Discreto, sorridente e amável, mesmo na sua pobreza. Vende flores quase sempre
e oferece flores quando se emociona. Foi o que aconteceu na noite em que, mal
chegado a Copacabana, viu o povo que rodeava o corpo do homem morto, vítima de
um mal súbito. Só depois é que se soube que Pedro o conhecia do tempo em que
era porteiro de um bar no Lido. Na hora não. Na hora ninguém compreendeu,
embora todos se comovessem com seu gesto, ali abaixado a colocar todas as suas
flores sobre as mãos do homem morto. Pois foi o que Pedro fez, voltando em
seguida para a sua favela do Esqueleto.
Naquela noite não trabalhou.
PONTE PRETA, Stanislaw. Dois amigos e um
chato.
São Paulo: Moderna, 1986. p. 5-6.
Após a leitura de , PEDRO – O HOMEM DA FLOR, responda as questões a seguir:
01.
A personagem
Pedro vendia flores em:
A) bares de Copacabana.
B) favelas no Esqueleto.
C) portarias no Lido.
D) repartições públicas.
02. No segundo
parágrafo, o narrador relata o sucesso da venda de flores quando Pedro:
A) enrola as hastes em papel prateado.
B) enrola as hastes das flores e sai.
C) entra nos bares e fica até de madrugada na
rua.
D) conta o dinheiro e vai comer.
03. O fato que origina
a crônica é a observação do narrador sobre:
A) o comportamento do vendedor.
B) a disposição das mesas do bar.
C) o mistério das mulheres.
D) a organização das flores no cesto.
04. O narrador
apresenta a fala do personagem na seguinte passagem:
A) “Conversei uma vez com Pedro – o homem da
flor”.
B) “Sim, talvez seja um bom psicólogo”.
C) “– Mais flores daria se mais flores
tivesse”.
D) “Assim é Pedro – o homem da flor”.
05. Do trecho ”Naquela
noite não trabalhou ”, pode-se deduzir que a personagem:
A) deixara todas as suas flores no chão.
B) era uma pessoa cheia de amargura
C) estava cansado de vender flores.
D) ficara triste com a morte do colega.
06. O narrador conta a
trajetória profissional de seu personagem com:
A) hostilidade e arrogância.
B) tristeza e arrependimento.
C) espanto e simpatia.
D) ironia e desprezo.
07. De que material
eram feitas as embalagens das flores?
A) de maços de
cigarros encontrados nas ruas.
B) de papéis de
presentes que Pedro ganhava.
C) de plástico
decorado com fitas coloridas.
D) de papel de seda
vermelho.
08. Em que horário
Pedro costumava vender sua mercadoria?
A) durante o dia,
em bares e lanchonetes.
B) durante a noite,
em bares e lanchonetes.
C) durante as
tardes em que fica sozinho.
D) durante algumas
madrugadas, quando está sozinho.
09. Onde Pedro
morava?
A) em Copacabana.
B) no Lido.
C) em um bar de
Copacabana.
D) na favela do
Esqueleto.
10. De que lugar o
narrador observa o trabalho de Pedro?
A) de um bar, onde
ele estava.
B) da rua onde ele
morava.
C) de uma janela
onde via a rua.
D) de um bar onde
ele trabalhava.
Atividade desenvolvida pela professora Renata Alves Camelo - E.M.E.F. Mário Covas
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