Assessores técnico-pedagógicos de Língua Portuguesa

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Diretoria de Ensino Fundamental

Este é um espaço especialmente destinado para os professores de Língua Portuguesa, da rede Municipal de São Vicente, para que possamos compartilhar conhecimentos e refletir sobre nossa prática docente.

6 de julho de 2011

Gênero - Crônica


PEDRO – O HOMEM DA FLOR


Se você se enquadra entre aqueles que se dizem boêmios ou, pelo menos, entre aqueles que costumam ir, de vez em quando, a um desses muitos barzinhos elegantes de Copacabana, é provável que já tenha visto alguma vez Pedro – o homem da flor. Se, ao contrário, você é de dormir cedo, então não.  Então você nunca viu Pedro – o homem da flor – porque jamais ele circulou de dia a não ser lá, na sua favela do Esqueleto.
Quando anoitece, Pedro pega a sua clássica cestinha, enche de flores, cujas hastes teve o cuidado de enrolar em papel prateado, e sai do barraco rumo a Copacabana, onde fica até alta madrugada, entrando nos bares – em todos os bares, porque Pedro conhece todos – vendendo rosas. Quando a cesta fica vazia, Pedro conta a féria e vai comer qualquer coisa no botequim mais próximo. Depois volta para casa como qualquer funcionário público que tivesse cumprido zelosamente sua tarefa, na repartição a que serve.
Conversei uma vez com Pedro – o homem da flor. Já o vinha observando quando era o caso de estar num bar em que ele entrava. Via-o chegar e dirigir-se às mesas em que havia um casal. Pedia licença e estendia a cesta sobre a mesa. Psicologia aplicada, dirão vocês, pois qual o homem que se nega a oferecer uma flor à moça que o acompanha, quando se lhe apresenta a oportunidade? Sim, talvez Pedro seja um bom psicólogo, mas, mais do que isso, é um romântico. Quando o homem mete a mão no bolso e pergunta quanto custa a flor, depois de ofertá-la à companheira, Pedro responde com um sorriso:
— Dá o que o senhor quiser, moço. Flor não tem preço.
Como eu ia dizendo, conversei uma vez com Pedro e, desse dia em diante, temos conversado muitas vezes. Ele sabe de coisas. Sabe, por exemplo, que a rosa branca encanta as mulheres morenas, enquanto que as louras, invariavelmente, preferem rosas vermelhas. Fiel às suas observações, é incapaz de oferecer rosas brancas às mulheres louras, ou vice-versa. Se entra num bar e as flores de sua cesta são todas de uma só cor, não coincidindo com o gosto comum às mulheres presentes, nem chega a oferecer sua mercadoria. Vira as costas e sai em demanda de outro bar, onde estejam mulheres louras, ou morenas, se for o caso.
O pequeno buquê de violetas – quando as há – é carinhosamente arrumado pelas suas mãos grossas de operário, assim como também as hastes prateadas das rosas. Saibam todos os que se fizeram fregueses de Pedro – o homem da flor – que aquele papel prateado artisticamente preso na haste das rosas e que tanto encanta as moças foi antes um prosaico papel de maços de cigarros vazios, que o próprio Pedro recolheu por aí, nas suas andanças pela madrugada.
Sei que Pedro ama a sua profissão, tira dela o seu sustento, mas acima de tudo esforça-se por dignificá-la. Não vê que seria um mero mercador de flores! Lembro-me da vez em que, entrando pelo escuro do bar, trouxe nas mãos a última rosa branca para a moça morena que bebia calada entre dois homens. Quando os três levantaram a cabeça ante a sua presença, pudemos notar – eu, ele e as demais pessoas presentes – que a moça era linda, de uma beleza comovente, suave, mas impressionante. Pedro estendeu-lhe a rosa sem dizer uma palavra e, quando um dos rapazes quis pagar-lhe, respondeu que absolutamente não era nada. Dava-se por muito feliz por ter tido a oportunidade de oferecer aquela flor à moça que ali estava. E sem ousar olhar novamente para ela, disse:
– Mais flores daria se mais flores eu tivesse!
Assim é Pedro – o homem da flor. Discreto, sorridente e amável, mesmo na sua pobreza. Vende flores quase sempre e oferece flores quando se emociona. Foi o que aconteceu na noite em que, mal chegado a Copacabana, viu o povo que rodeava o corpo do homem morto, vítima de um mal súbito. Só depois é que se soube que Pedro o conhecia do tempo em que era porteiro de um bar no Lido. Na hora não. Na hora ninguém compreendeu, embora todos se comovessem com seu gesto, ali abaixado a colocar todas as suas flores sobre as mãos do homem morto. Pois foi o que Pedro fez, voltando em seguida para a sua favela do Esqueleto.
Naquela noite não trabalhou.
PONTE PRETA, Stanislaw. Dois amigos e um chato.
São Paulo: Moderna, 1986. p. 5-6.









Após a leitura de , PEDRO – O HOMEM DA FLOR, responda as questões a seguir:


01. A personagem Pedro vendia flores em:
A) bares de Copacabana.
B) favelas no Esqueleto.
C) portarias no Lido.
D) repartições públicas.

02. No segundo parágrafo, o narrador relata o sucesso da venda de flores quando Pedro:
A) enrola as hastes em papel prateado.
B) enrola as hastes das flores e sai.
C) entra nos bares e fica até de madrugada na rua.
D) conta o dinheiro e vai comer.

03. O fato que origina a crônica é a observação do narrador sobre:
A) o comportamento do vendedor.
B) a disposição das mesas do bar.
C) o mistério das mulheres.
D) a organização das flores no cesto.

04. O narrador apresenta a fala do personagem na seguinte passagem:
A) “Conversei uma vez com Pedro – o homem da flor”.
B) “Sim, talvez seja um bom psicólogo”.
C) “– Mais flores daria se mais flores tivesse”.
D) “Assim é Pedro – o homem da flor”.

05. Do trecho ”Naquela noite não trabalhou ”, pode-se deduzir que a personagem:
A) deixara todas as suas flores no chão.
B) era uma pessoa cheia de amargura
C) estava cansado de vender flores.
D) ficara triste com a morte do colega.

06. O narrador conta a trajetória profissional de seu personagem com:
A) hostilidade e arrogância.
B) tristeza e arrependimento.
C) espanto e simpatia.
D) ironia e desprezo.

07. De que material eram feitas as embalagens das flores?
A) de maços de cigarros encontrados nas ruas.
B) de papéis de presentes que Pedro ganhava.
C) de plástico decorado com fitas coloridas.
D) de papel de seda vermelho.

08. Em que horário Pedro costumava vender sua mercadoria?
A) durante o dia, em bares e lanchonetes.
B) durante a noite, em bares e lanchonetes.
C) durante as tardes em que fica sozinho.
D) durante algumas madrugadas, quando está sozinho.

09. Onde Pedro morava?
A) em Copacabana.
B) no Lido.
C) em um bar de Copacabana.
D) na favela do Esqueleto.

10. De que lugar o narrador observa o trabalho de Pedro?
A) de um bar, onde ele estava.
B) da rua onde ele morava.
C) de uma janela onde via a rua.
D) de um bar onde ele trabalhava.



Atividade desenvolvida pela professora Renata Alves Camelo - E.M.E.F. Mário Covas

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