Uriri
e Bertolina
Uriri e Bertolina
tocam roça no assentamento e têm quatro filhos. Um é moço e se chama Virgulino,
respondendo pelo apelido de “cabeça de burro”; a filha está buchuda, fazendo
pouco que casou na “igreja verde”; o terceiro filho, abestado de tanto tomar
mé, é Raimundo, conhecido por “rola pé”; e outro filho é “Zé do Balcão”.
Uriri precisou ir à
rua, mode que tava com baticum e curuba. Na rua, precisou ver a dotora e também
fazer o rancho, antes que ficasse turvo, pois no dia seguinte tinha juquira da
grossa.
Antes de sair, Uriri
disse para a patroa:
– Ma homi! Prepara o
quebra-jejum, mode tô avexado.
De quebra-jejum,
Uriri comeu pixicado, frito, modubim, mangolão, chambari, pegado, arroz de
leite, simbereba, passa raiva, jerimum e aipim. Muito avexado, azuado, aperreado
e seboso, Uriri pegou o gongo gomado pela patroa, a lembreta, um pouco de tapioca
e a jóia, colocou tudo numa boroca e num banzo e partiu rumo à rua.
Uriri andou curiando
tudo na estrada e no meio do caminho viu uma cunhã numa tibuzana, trabalhando
com o tapiti no rancho. Ao chegar perto, a cunhã disse:
– Encosta aqui e
venha pegar o rango enquanto eu vou ali jogar no mato a massa do aipim.
Uriri, que já tinha
comido muito em casa, agradeceu a cunhã e continuou a viagem, tomando mé pelo
caminho. Quando chegou na rua, estava num banzo danado e foi parar no campo
santo à procura da dotora. Lá verteu água à vontade. Sem conseguir sair dali, Uriri
dormiu como estava.
No outro dia, ao
perceber que estava no campo santo, saiu aperreado rumo ao armazém para fazer o
rancho, depois foi à clínica ver a dotora e por fim foi ao rancho de seu irmão.
Ao chegar no rancho, uma vizinha contou que
seu irmão tinha batido as botas e que a sentinela fora na semana anterior e que
aquele dia já era o dia de visita ao campo santo.
Uriri saiu meio
abestado do rancho, mas não quis ir ver seu irmão, já que tinha passado a noite
bem perto dele, deu-se por satisfeito.
Voltando à rua, Uriri
tratou de comprar o que faltava: a farda para o “cabeça de burro” ir para a
escola.
Ao chegar em casa,
sua patroa Bertolina, muito aperreada, disse:
– Corno! Por que
demorou? Nossa filha pariu, e a cria está com mal de sete dias.
Uriri, aperreado,
quis tirar o paninho para conferir se era fêmea ou macho, sem dar ouvido à
patroa.
Bertolina, muito
macha, disse para Uriri deixar de saliência e voltar correndo para a rua:
– Ande, homi! Num tá
vendo que a cria carece da dotora. Vá, caminhe pra rua de novo e traga a dotora
pra espiá essa criatura. Eta, homi mole.
(Conto popular de
Tocantins. Palmas, 2001.).
Ao terminar a primeira leitura, você deve
estar se perguntando que história é essa. Como compreender um texto em que o
significado da maioria das palavras você não reconhece?
Pense nisso. Será que um texto pode informar
algo se o leitor não consegue compreendê-lo? Será que há alguma coisa que o
leitor possa fazer para decifrar este texto, a princípio, incompreensível?
Vamos tentar?
Atividade
1) Com certeza você deve
ter encontrado alguma dificuldade para compreender o texto. Procure explicar
qual foi essa dificuldade.
2) Se os alunos de
Tocantins lessem o mesmo texto em sala de aula, encontrariam as mesmas
dificuldades que você? Por quê?
3) Segundo o contexto da
estória “Uriri e Bertolina”, como você reescreveria os trechos a seguir, para
que ficassem compreensíveis?
a) “Na rua, precisou ver
a dotora e também fazer o rancho, antes que ficasse turvo (...)”.
b) “– Ma, homi! Prepara
o quebra-jejum, mode tô avexado.”.
4) Volte ao texto e
grife as palavras que você não compreendeu durante a leitura. Relacione a seguir dez palavras grifadas e complete o
quadro com o significado provisório que você
atribuiu a elas e, depois da discussão com o professor em sala, finalize o
quadro acrescentando o significado real:
5) Escolha um colega da
turma e reconte a lenda com as suas palavras.
6) Discuta com os
colegas e observe quais são as características do texto e da prática de leitura que contribuíram para a realização de
diferentes leituras na turma.